Ao lado de estação de tratamento, famílias usam fossa em Guarulhos

Pouco mais de dois anos desde que Guarulhos, na Grande São Paulo, ganhou sua primeira estação de tratamento de esgoto, a São João, moradores da região afirmam não ter acesso ao serviço. A escola municipal do bairro fica em frente ao esgoto, a céu aberto.

A estação existe desde 2010 para atender a 198 mil famílias, mas, ao seu redor, dezenas de moradores relatam possuir fossas sépticas, além de terem de conviver com o mau cheiro do rio Baquirivu, que corta toda a região.

Segundo o Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE) de Guarulhos, atualmente a cidade possui duas Estações de Tratamento de Esgoto (ETEs) em operação.

A primeira, inaugurada em setembro de 2010, é responsável pelo tratamento dos esgotos do subsistema São João, que representa 15% dos efluentes gerados; e a segunda, entregue em dezembro de 2011, recebe os esgotos do subsistema Bonsucesso, respondendo por outros 20%, totalizando 35% de cobertura.

João Gonçalves, de 78 anos, que mora há 50 anos no bairro São João, diz que não é atendido. Sua casa fica em frente ao que hoje é a ETE São João, mas ele conta possuir uma fossa séptica para o esgoto. “Isso vai demorar, para todo mundo. Quando cheguei aqui nesse bairro, não tinha nada”, relata o morador.

A fossa é uma forma de tratamento doméstico de esgoto muito utilizada em áreas rurais e ajuda a decomposição do material orgânico, mas não tem o mesmo efeito do tratamento de esgoto por meio da coleta em estações de tratamento.

“Era tudo mato. Aí foram chegando essas casinhas em volta, foi enchendo de gente. Mas os serviços não vieram com elas. Então, tem muita gente que nem fossa tem. Eu vi sendo feita essa estação, mas até colocarem canos para recolher o esgoto, demora. Eu boto anos aí nessa conta”, afirma.

O morador mostra a fossa, localizada a poucos metros da entrada da estação. Ele cultiva flores, e diz que queima o próprio lixo para servir de adubo. “Aqui não vem coleta de lixo também para a gente não, vem para essas empresas que você está vendo. Mas nem colocamos o lixo para fora, é pedir para juntar bicho”, relata.





Na rua paralela, uma escola municipal, a EPG Perseu Abramo, está instalada em frente ao esgoto a céu aberto, também a apenas alguns metros da estação de tratamento de esgoto. “Aqui é esse cheiro forte mesmo”, diz um funcionário da prefeitura de Guarulhos, que prefere não se identificar.

A moradora Maria José dos Santos, 57, tem dificuldades para responder se possui tratamento de esgoto. Ela pergunta para o marido, que diz que sim. “É, tem um cano, que vai ali para a fossa séptica do bairro, na rua 2”, afirma. “Quando asfaltaram, colocaram.”

Segundo pesquisa Ibope contratada pelo Instituto Trata Brasil realizada em 2012, grande parte dos brasileiros desconhece para onde vai seu esgoto. A organização, que trabalha em prol da universalização do acesso à coleta e ao tratamento de esgoto, estima que 100 milhões de brasileiros não possuam o serviço atualmente.

Além da ausência de tratamento de esgoto, os moradores do bairro São João e outros próximos, como Parque São Luís e Jardim Presidente Dutra, sofrem com um córrego que corta toda a região, próxima ao Aeroporto Internacional de Cumbica. Nessa parte do rio Baquirivu, o odor forte penetra nas casas em dias mais quentes e uma poluição de dejetos que desagua diretamente no rio Tietê.

“Tem muitas favelas aqui na região. E mesmo onde não tem favela, eu sei que o esgoto nosso vai para esse rio. Agora, por que não canalizam isso? E esse prédio da SAAE, dizem que limpam a água na cidade de Guarulhos, mas a nossa, ninguém está limpando”, diz Aparecido Pereira Silva, 54 anos, morador há 30 anos do bairro.

Segundo Censo 2010 do IBGE, 3,8% dos domicílios de Guarulhos tinham esgoto a céu aberto e 37,4% do entorno dos domicílios não possuía bueiros ou boca de lobos, o que facilita enchentes em locais próximos a córregos não canalizados.

Fonte: G1





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