Detentos usam teatro para diminuir violência dentro de presídio em Guarulhos

Um grupo de 30 pessoas com pouca noção de teatro se junta para criar e interpretar duas peças em 20 minutos. De bate-pronto, são criados textos cheios de conteúdo engajado e improvisações. A atividade, que seria considerada normal para alunos de teatro, foi executada com êxito por presidiários do Complexo Penal José Parada Neto, em Guarulhos, na Grande São Paulo. O trabalho faz parte do projeto Como Vai seu Mundo, oferecido para detentos do local desde o mês de janeiro.

Um grupo de 30 pessoas com pouca noção de teatro se junta para criar e interpretar duas peças em 20 minutos. De bate-pronto, são criados textos cheios de conteúdo engajado e improvisações. A atividade, que seria considerada normal para alunos de teatro, foi executada com êxito por presidiários do Complexo Penal José Parada Neto, em Guarulhos, na Grande São Paulo. O trabalho faz parte do projeto Como Vai seu Mundo, oferecido para detentos do local desde o mês de janeiro.

No projeto, além do teatro, os presos do regime semiaberto tem a oportunidade de desenvolver sua veia artística por meio de vídeo, grafite, música entre outros.

O R7 acompanhou um dia de oficinas do projeto, que acontecem em um sobrado sem forro que serve de local ecumênico aos presos do complexo. Muitos deles disseram que as atividades são uma “válvula de escape” da prisão. Um deles, um rapaz* de 26 anos que trabalhava em uma oficina mecânica antes de ser preso em 2009, apontou uma rota de fuga para a reportagem.

– É fácil. Se qualquer um quiser sair daqui, sai. É só pular uma grade.

Ele disse que esse tipo de atividade “acalma” e ajuda a preparar os presos para enfrentar o “mundão” de novo. No jargão dos detentos, “mundão” é todo espaço que existe depois da porta de saída da penitenciária.





Nas atividades do projeto, ninguém tenta tapar o sol com a peneira. Nas duas peças assistidas pela reportagem, havia referências claras à condição de preso, aos erros cometidos por eles no passado e ao preconceito. Muitas das reclamações são as mesmas que incitam rebeliões em cadeias: falta de infraestrutura para atender a todos e problemas com os horários das visitas.

Mudança no indulto

Muitos se disseram descontentes com a medida da Justiça que mudou o regime de indultos (saídas temporárias em datas como Páscoa e Dia das Mães) no local. Desde fevereiro, os presos do Complexo Penal José Parada Neto passam a sair apenas no Natal, Ano Novo e nos aniversário de parentes. A medida foi assinada pelo juiz Jayme Garcia dos Santos Júnior, titular da Vara das Execuções Criminais de Guarulhos.

Foi o próprio Santos Júnior quem propôs a criação da atividade ao saber que a penitenciária receberia um detento ilustre: Marcos de Omena, o rapper Dexter. Entre as várias composições de Dexter está a música Como Vai Seu Mundo, que acabou batizando o projeto (“Através das grades olhei pro céu azul / Um pássaro voava do norte pro sul”, diz a letra).

O juiz defende a sua portaria, dizendo que dessa forma fica mais fácil de controlar os poucos presos que saem de cada vez, ao invés de “despejar todos na rua” ao mesmo tempo. Ele também diz que já esclareceu os motivos da mudança para os detentos.

– Dois dias depois da portaria eu fui até a penitenciária e falei: ‘olha, infelizmente os senhores se encontram em uma situação excepcional e essa segregação vai privar os senhores de desfrutar ou de viver determinadas situações da vida. Isso é consequência dos atos dos senhores’.

Após a mudança no regime de indulto, o clima de tensão tomou conta do complexo. Eduardo Bustamante, idealizador do projeto e assessor de Dexter, vinha desde o começo do projeto batendo na tecla de que os detentos precisavam se expressar com ideias, não através da violência. Não houve rebelião em Encontra Guarulhos, o que poderia fazer com que muitos voltassem para o regime fechado ou ainda aumentar as penas.

Fonte: R7





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